Union Radio Noticias - 91.3 FM Ao Vivo

Grupo Revelação - Tá Escrito (Ao Vivo no Morro)



Poema ao acaso


Poema ao acaso


<p>Apontas para o rosto sarcástico do sol de Inverno &nbsp;<br>e disparas. Há tantos meses que não chove – reparaste?<br>É o próprio céu a desistir de ti. E mesmo assim tu disparas, só sabes disparar.<br>Estás enganada, Europa. Envelheceste mal e perdeste a humildade. &nbsp;<br>Não é contra o sarcasmo que disparas, não é contra o Inverno,<br>nem sequer contra o insólito, contra o desespero. &nbsp;<br>Tu disparas contra a luz. &nbsp;<br>Podes atirar-nos tudo à cara, Europa: bombas, palavras, relatórios de contas. Podes até atirar-nos à cara um deputado, uma cimeira.<br>Mas os teus filhos não querem gravatas. Os teus filhos&nbsp;<br>querem paz.<br>Os teus filhos não querem que lhes dês a sopa. Os teus filhos querem trabalhar. &nbsp;<br>Há tantos meses que não chove – reparaste? &nbsp;<br>A terra está seca. Nem abraçados à terra conseguimos dormir. &nbsp;<br>Enquanto te escrevo, tu continuas a fazer contas, Europa. &nbsp;<br>Quem deve. Quem empresta. Quem paga.<br>Mas os teus filhos têm fome, têm sono. Os teus filhos têm medo do escuro. &nbsp;<br>Os teus filhos precisam que lhes cantes uma canção, que os vás&nbsp;<br>adormecer.<br>Eu acreditei em ti e tu roubaste-me o futuro e o dos meus irmãos. &nbsp;<br>Se estamos calados, Europa, é apenas porque, contrários ao&nbsp;<br>teu gesto,<br>nós não queremos disparar.&nbsp;</p>